Sergio Habib, experiente na indústria automobilística, desvenda como uma montadora realmente ganha dinheiro, abordando desde os custos de produção até a importância das peças de reposição na lucratividade do setor.
Em um cenário onde o custo de produção e as estratégias financeiras das montadoras são frequentemente um mistério, Sergio Habib oferece uma visão interna e esclarecedora. Habib, com sua vasta experiência no setor, incluindo posições de liderança em grandes montadoras, compartilha informações cruciais no podcast ‘Você na Roda’, sobre os desafios econômicos enfrentados pelas empresas automotivas.
Habib começa explicando que o custo para desenvolver um novo carro em países como Europa e Estados Unidos gira em torno de 1 bilhão de euros ou dólares, enquanto na China, devido à eficiência, os custos são significativamente menores. Este valor elevado está associado ao desenvolvimento integral de um novo modelo, como o Polo da Volkswagen ou o Golf da próxima geração.
Estratégias de depreciação
Segundo Habib, as montadoras adotam diferentes estratégias de depreciação. Um CEO pode optar por depreciar um bilhão de euros em 1 milhão de carros ao longo de 8 anos, ou inflacionar esta estimativa para mostrar lucros a curto prazo, postergando perdas para futuras gestões.
Habib alerta que os balanços de montadoras podem ser enganosos. Empresas públicas nos EUA, por exemplo, tendem a mostrar lucros menores do que a realidade para manter a valorização das ações, enquanto empresas privadas frequentemente apresentam lucros superiores aos registrados.
Importância das peças de reposição
De forma surpreendente, Habib revela que a margem de peças de reposição é vital para cobrir as despesas operacionais de uma montadora. Contudo, ele aponta um desafio iminente com a ascensão dos carros elétricos, que possuem 40% das peças de um carro a gasolina, reduzindo assim a lucratividade das peças de reposição.
Além do impacto nas peças de reposição, Habib destaca que, em veículos elétricos, as montadoras controlam apenas cerca de 15% do custo total do carro, em comparação com 40% nos modelos convencionais. Isso indica uma dependência crescente de fornecedores externos.
Custo industrial real
Surpreendentemente, o custo de uma fábrica de montagem representa apenas 5 a 6% do custo total de um carro. Habib ilustra isso com o exemplo do Volkswagen Polo, onde um veículo vendido por R$ 100.000 gera R$ 70.000 para a montadora, excluindo impostos.
Contra a crença popular, as margens de lucro nas montadoras são modestas. Em um carro de R$ 100.000, a montadora pode reter apenas cerca de R$ 11.000 de lucro, evidenciando uma rentabilidade baixa no setor.
Sergio Habib conclui que a indústria automobilística é um setor de alto risco e baixa rentabilidade, desafiado por mudanças frequentes em sua linha de produtos e pela necessidade constante de inovação e adaptação. Ele destaca que as montadoras valem surpreendentemente pouco no mercado de ações, refletindo a complexidade e a incerteza inerentes ao setor.